Sobre AD Fundão “encontrei um campo minado....muitos bombistas”
Com vinte anos de carreira como treinador, desde que deixou o FC Unidos Pinheirense ainda na pré-época, Pedro Henriques tem estado no desemprego, apesar de convites que foram surgindo mas que recusou, mas que agora sente-se triste por os ter recusado.
Um treinador com títulos nacionais no curriculum entre fronteiras e fora delas, dá uma entrevista ao futsal-porto-distrital.com, onde fala do seu passado recente, agora que está a finalizar o relatório final de terceiro grau no Atlético Clube de Portugal
Fernando Parente (FP): Mister Pedro, o que sente um homem da modalidade, que sempre trabalhou em prol da mesma, quando ao cabo de dezanove anos ininterruptos a treinar, se encontra no desemprego a nível desportivo?
Pedro Henriques (PH): Um pouco triste por ter recusado outros projetos, pois já tinha dado a minha palavra em continuar no FCU Pinheirense, mas durante o defeso senti-me enganado e deixei de ter condições para continuar esse projeto.
“a paixão fala mais alto, quero mais vinte”
FP: Em 2016, o Mister faz vinte anos de carreira como Treinador de futsal. O que lhe apraz dizer dos mesmos?
PH: Foram vinte anos de muitas lutas, misturas de sentimentos, mas acima de tudo uma grande entrega e grande paixão pela minha profissão. Pensei em deixar mas quando a paixão fala mais alto, quero mais vinte....!!!!
FP: Sei que o Orlando Duarte foi extremamente importante no começo da sua carreira, tal como o Adil Amarante. Dois treinadores conceituados, mas que o futsal em Portugal não soube rentabilizar depois de tudo que eles fizeram pela modalidade. O Mister acha que a saída dos mesmos para o estrangeiro foi a melhor opção, tendo em conta a realidade desportiva atual na Liga Sportzone?
PH: Penso que sim, são dois monstros do futsal nacional, deram muito ao nosso futsal, mas procuraram outras realidades.
FP: Treinou grandes clubes em Portugal (Sporting, Benfica, Belenenses, AD Fundão, Pinheirense…), treinou no Japão (Nagoya Oceans) e na Coreia, onde sempre conquistou títulos. Quantas vezes, se questionou, do porquê de não estar a treinar?
PH: Muitas vezes, tantas, quanto arrependimento de no final da época passada ter propostas nacionais e internacionais, os ter rejeitado.
FP: Trabalhou também na formação e em clubes dos escalões mais baixos. É da opinião que os melhores Treinadores de futsal têm de estar ou passar pela formação?
PH: Penso que para o crescimento e formação do treinador é muito importante passar pela formação.
FP: Na altura em que teve de emigrar, estava rotulado como Treinador de guarda-redes. Foi a sua afirmação no panorama internacional que o levou assumir a rutura de ser adjunto e conectado com os guarda-redes para dar início a uma carreira como treinador principal?
PH: Foi uma das principais razões que me levou a sair de Portugal. Senti a e sinto que é isto que eu quero.
“…acidente que eu tive na minha carreira”
FP: Trabalhou no CD Fátima na extinta 3.ª Divisão e nas Seleções Distritais da AF Setúbal. Foi a rampa de lançamento para chegar à AD Fundão?
PH: Tudo ajudou, mas se soubesse o que sei hoje nunca tinha ido para o Fundão.
FP: O que falhou nesse projeto quando tinha tudo para dar certo?
PH: Muita coisa...a minha formação é de treinador e não de militar, encontrei um campo minado....muitos bombistas. Comparo esse caso com o que Rui Vitória (Futebol Sénior SL Benfica) esta a passar, mas com uma pequena diferença, ele tem um presidente que o apoia. Mas chega de falar sobre isso, quero colocar uma pedra nesse acidente que eu tive na minha carreira.
FP: O que retira da sua passagem por um clube que atualmente é conhecido em Portugal como o terceiro profissional?
PH: Em primeiro lugar não considero isso em relação a esse clube, penso que Braga e outros são mais profissionais, mas isso é a minha opinião. O que retirei da minha passagem pelo Fundão, uma grande aprendizagem para o futuro.
FP: O Mister saiu da AD Fundão e passado pouco tempo assumiu as lides do Pinheirense, clube que na altura militava na Liga Sportzone. Foi a escolha certa no momento, depois de experiência vivida no Fundão?
PH: Sim, foi a melhor coisa que me podia ter acontecido, fui muito bem recebido, nunca de deixaram faltar nada. Apanhei um grupo muito disponivel para trabalhar e com uma enorme vontade de ganhar, muito competentes. Basta ver a classificação da segunda volta, ficamos em sextos classificados, e só não ficamos na Liga Sport Zone porque faltou-nos a estrelinha.
“gosto...treinar equipas de fato de treino”
FP: Rentabilizou a equipa, estabilizou-a a nível de resultados e exibições, mas não conseguiu a permanência. Os adeptos pediram a sua renovação e a mesma foi acertada para dar início ao projeto de trazer novamente o Pinheirense à 1.ª Divisão. O que falhou para que o Mister depois de acertada a sua continuidade, a mesma caísse por terra passado pouco tempo?
PH: Depois de tudo o que o clube fez por mim e eu por eles, nunca pensei que fosse este o desfecho das coisas, mas como já disse em cima, deixei de ter condições para continuar.
FP: Deixando os clubes e sentimentos de lado. A ambição do Mister passa por?
PH: Continuar a fazer aquilo que gosto...treinar equipas de fato de treino, com muito profissionalismo e honestidade.
FP: Para os Treinadores, que estão sempre a prazo, quais são os melhores projetos?
PH: A meu ver os melhores projetos a longo prazo são na formação, pois nas equipas seniores os treinadores estão sempre a prazo, porque dependem muito de resultados.
“o único problemas a meu ver é a Série Açores”
FP: Acredito que o Mister, mesmo estando sem clube atualmente, não tem estado parado. O que tem realizado a nível da modalidade para continuar com o seu processo de evolução e maturação?
PH: Ao longo deste tempo tenho visto muitos jogos nacionais, distritais de todos os escalões, e também estou a concluir o relatório final de curso de Grau 3, no Atlético Clube de Portugal.
FP: Agora virando o disco para as nossas competições. Sente que o formato da 2.ª Divisão é o mais adequado para a realidade do futsal em Portugal?
PH: Eu pessoalmente concordo, o único problemas a meu ver é a Série Açores, as equipas dos Açores perdem muita competitividade e depois a diferença entre as equipas do continente é enorme.
FP: E o da Liga Sportzone?
PH: Concordo, adoro os Play-off’s
“A nossa seleção tem um grande treinador”
FP: Seleções, uma miragem ou um objetivo?
PH: Pode sempre aparecer uma seleção de um outro Pais, a qualquer momento. A nossa seleção tem um grande treinador, Jorge Braz.
FP: O Mister deixou algo por dizer que não tenha sido referido nas questões anteriores?
PH: Havia muita coisa ainda para dizer, mas como estou a escrever um livro sobre a minha vida no Futsal, não posso dizer tudo aqui.
Quero agradecer a oportunidade que me deram e desejar a todos um feliz Natal e um ótimo ano de 2016.